A nossa experiência com o COVID: Parte 1

Queremos partilhar com todos os que nos seguem e com a comunidade em geral a nossa experiência com o coronavírus. Começou assim…

Sábado, 8 de Agosto – Uma das funcionárias da nossa creche ficou doente durante o fim de semana; não tinha febre, mas sentia-se muito cansada. Tendo em conta que estamos no final do ano lectivo e que é necessário compensar o facto de algumas trabalhadoras já estarem de férias, o cansaço não seria nada de admirar!

Domingo, dia 9 – Como uma das mães da creche tinha sido diagnosticada com COVID a 3 de Agosto, e seguindo o plano de contingência da Fundação, a funcionária telefonou para a Saúde 24, que simplesmente a mandou ficar três dias em casa e esperar pelo contacto do delegado de saúde.

Segunda-feira, dia 10 – A Direcção da Fundação contactou a Unidade Local de Saúde Pública, que imediatamente disse para a funcionária se dirigir ao Centro de Saúde para ser vista por um dos médicos da equipa de combate ao coronavírus. Depois da consulta e de um raio X, o diagnóstico foi princípio de pneumonia. Veio para casa com antibiótico e marcação do teste para despiste do coronavírus.

Terça-feira, dia 11, a funcionária realizou o teste.

Quarta-feira, dia 12 – Pelas 20:00 caiu-nos a bomba em cima… o teste veio positivo. Sinceramente, ninguém estava à espera! A partir desse momento já não há sossego: contactos com a Delegada de Saúde, reuniões de Direcção, apoio à funcionária doente… e o mais difícil de tudo: tomar a decisão de encerrar a creche por dois dias e isolar todas as funcionárias da creche até que realizassem o teste ao vírus, para posteriores decisões.

Encerrar é o melhor para todos, além de ser uma ordem da Unidade Local de Saúde que temos de cumprir; mas comunicar esse facto às famílias – que contam connosco para terem um dia de trabalho tranquilo e organizado, enquanto cuidamos dos seus filhos – foi duro. Saber o transtorno que esta notícia iria causar aos pais, o prejuízo financeiro aos pais que têm as suas próprias empresas, e que na actual conjuntura uma paragem pode colocar postos de trabalho em risco, é mesmo muito difícil!!!

Termos as valências a funcionar em edifícios separados foi muito vantajoso. Nem o Ensino Pré-Escolar (EPE) nem o CAFAP teriam de encerrar. Foram “só” mais algumas reuniões de equipa para rever horários, ajustar a logística para 5.ª e 6.ª-feira e fazer a comunicação aos pais do EPE.

Quinta-feira, dia 13 de manhã – O dia começou cedo: procurar um laboratório que faça as análises com urgência a todos os funcionários; elaborar listagens com os dados de todos os funcionários, crianças e pais que tinham contactado com a funcionária, para que a equipa de Saúde Pública consiga fazer os contactos com os pais e estabelecer possíveis percursos do vírus; informar a Segurança Social do que se estava a passar…

À tarde – Testes marcados para o próprio dia às 16h! Neste ponto temos de agradecer ao Laboratório de análises clínicas Affidea – Posto de Recolha de Aljubarrota pela resposta rápida e todo o apoio que nos deram. Continua toda a equipa a atender os pais com dúvidas, a articular com a Saúde Pública, a manter o apoio à funcionária doente e à espera da hora do teste.

O tempo passou… foi feito o teste.

A Unidade Local de Saúde informa que devemos proceder à desinfecção das instalações. Novo assunto para resolver: quem faz isso, quanto tempo demora, quanto irá custar? Perguntamos à Junta de Freguesia de Alcobaça e Vestiaria, que nos dá todo o apoio e solidariedade. Em princípio é a GNR que tem uma equipa especializada para este trabalho. Sugeriram articularmos com a Santa Casa da Misericórdia de Aljubarrota, pois eles também tiveram de proceder à desinfecção das instalações durante o surto que lá ocorreu. 

Uma das vantagens de não sermos os primeiros a sofrer numa situação qualquer é podermos recorrer à experiência dos que já por lá passaram. Contactámos a dr.ª Elizabete, Directora Técnica da SCM Aljubarrota, que nos prestou todas as informações necessárias sobre a desinfecção, partilhou um pouco das dificuldades por que passaram e como as resolveram, e se mostrou pronta a apoiar-nos naquilo que fosse necessário. Esta partilha de experiências e apoio foi para nós motivo de alegria e conforto.

À noite – Surge então outra notícia… afinal a Creche tem de fechar por 14 dias, mesmo que os testes de todos os outros funcionários sejam negativos! Como assim… 14 dias?!

Nós, que desde Março mudámos radicalmente os nossos hábitos, nos privámos do contacto com os outros, adoptámos comportamentos de protecção para nós e para os outros, nós que queremos trabalhar… assistirmos às dificuldades em manter o nosso posto de trabalho e às vezes o dos outros, e recebermos a notícia que vamos ter de ficar fechados em casa 14 dias com os nossos filhos mesmo que os testes sejam todos negativos, é mesmo muito difícil de aceitar!

Mas nós não estamos por dentro do combate à pandemia. Não conhecemos o ciclo de incubação; durante a formação foi-nos dito que seria de dois a 14 dias, mas pode-se dizer que apesar da formação a dúvida persiste. Não estamos em contacto com os doentes, não sabemos a quantidade de casos existentes, só sabemos o que se ouve dizer e o que a televisão vai divulgando. Por isso, temos de confiar que a Equipa Local de Saúde está a fazer o seu melhor para parar esta doença, travando o aumento de casos – e que não é de ânimo leve que nos obrigam a ficar em casa todo este tempo. 

Aproveitamos agora para agradecer toda a orientação, apoio e paciência da Unidade Local de Saúde durante este processo, em especial à dr.ª Teresa e à enfermeira Cristina, que têm coordenado o nosso caso.

Continua amanhã… 

Foto de T. Q. em Unsplash