A nossa experiência com o COVID: Parte 2

Sexta-feira, dia 14 – Depois do contacto com a Segurança Social para fazer o ponto da situação, surge mais um desafio: organizar a próxima semana no Ensino Pré-Escolar (EPE). A cozinheira da Fundação é uma das funcionárias em isolamento profiláctico… como é que podemos ter o EPE aberto sem cozinheira? Também vai ter de fechar?!

Nova reunião de Direcção e outra de Equipa. Novo contacto com a Delegada de Saúde. Não podemos fechar o EPE, porque como não há nenhuma criança doente nem nenhum funcionário positivo no EPE, não há forma de justificar a falta dos pais ao trabalho. Temos de arranjar uma solução.

Todos contribuíram com ideias. Podemos contactar a Câmara Municipal, ou outra IPSS, ou mesmo um restaurante. No final, conseguimos uma voluntária que muito nos tem apoiado desde o início desta pandemia. Assim não desperdiçamos os alimentos na despensa e frigorífico da Fundação… é menos um prejuízo!

Apesar de todos os problemas e contactos, ao longo do dia o nosso pensamento está no resultado dos testes: quando chegam? como será depois…?

18h30 – Chegam os resultados… todos NEGATIVOS! Que alívio! Que alegria! Que bênção!

Seguem-se mais alguns contactos: informar os funcionários, informar a Unidade de Saúde Local (primeiro por telefone, depois enviando os resultados formalmente via e-mail); partilhar a boa notícia com os pais; e resolver todas as questões práticas que agora os funcionários colocavam:

  • Os maridos e os filhos podem sair de casa?
  • Ainda tenho de ficar isolada no quarto?
  • Posso comer com os meus filhos à mesa?
  • Posso ir para outra casa só com o meu marido?
  • Os meus filhos podem contactar com os avós?

Podem parecer ridículas as questões que são levantadas – mas elas surgem porque queremos fazer o que está certo, e não o que achamos que podemos fazer. Queremos ser parte da solução, e não do problema.

Mais um contacto importante: apoiar a funcionária que está doente e que agora fica a saber que só ela estava infectada. Apesar da alegria por mais ninguém estar doente, fica a questão que nos tem perseguido… como é que ela foi contagiada? Esta funcionária esteve no processo de reabertura da Creche, ajudou a pensar nos procedimentos e na elaboração do Plano de Contingência, mudou a sua vida social e familiar, estava atenta aos sintomas das crianças e partilhava com os pais qualquer situação anómala… Fica o alívio: ela foi contaminada por alguém em algum sítio, mas não contaminou nenhuma colega na Fundação.

Sábado, dia 15 – Estas partilhas são muito longas, mas o objectivo é que TODOS percebam o transtorno que é uma pessoa estar infectada. A maioria das vezes, a doença não traz complicações de saúde para as pessoas saudáveis: o problema é tudo o que acontece à nossa volta quando estamos infectados. As consequências sociais e económicas são enormes. Pior ainda é infectar os outros. Não sabemos se a pessoa com quem nos cruzamos tem um problema de saúde grave e poderá morrer se for contaminada.

TODOS temos a responsabilidade de nos mantermos distantes uns dos outros e de cumprirmos as orientações que nos são dadas, mesmo que as achemos exageradas. Sabemos que a grande maioria das pessoas vai contactar com o vírus, e que também assim se geram defesas contra a doença, mas este contacto deve ser feito o mais lentamente possível para que se minimize o prejuízo social, económico e em vidas humanas.

O facto da Fundação, funcionários, pais e crianças estarem a cumprir com todo o rigor o Plano de Contingência elaborado fez com que só uma funcionária esteja infectada. Isto reduz em muito o tempo de encerramento, o número de pessoas isoladas, o número de testes a realizar e o impacto da doença no nosso país.

Esta experiência continuará por mais sete dias de isolamento, se não aparecer mais ninguém infectado. Não sabemos o que o futuro nos trará… mas já temos muito para agradecer a Deus:

Agradecer a Sua protecção; os funcionários excelentes que Ele tem colocado no nosso meio, e que tudo fazem para evitar dificuldades; a sabedoria que Ele concede a todos os que dirigem a Fundação; os profissionais da Unidade de Saúde Local que Ele colocou na nossa zona; os pais que Ele trouxe até nós que nos têm apoiado; as crianças que Ele nos deu para ajudarmos a crescer e que dia a dia nos dão tantas alegrias; a colaboração e solidariedade demonstrada por todas as instituições com quem contactámos; e, finalmente, agradecer a Deus a altura em que isto aconteceu: como é Agosto, temos poucas crianças na Instituição, e menos funcionários também.

Acreditamos que Deus não nos livra de todos os males do mundo, mas que nos dá os recursos necessários para juntos vencermos todos os obstáculos que vão surgindo pelo nosso caminho. Isto se estivermos prontos para ir por onde Ele nos indica.

Foto por James Wainscoat em Unsplash